quarta-feira, 9 de novembro de 2011

UM POUCO DE 'O JESUS DA HISTÓRIA'

O Jesus da história

Manuscritos, descobertas arqueológicas e uma mudança de mentalidade favorecem um avanço na reconstituição da Palestina de há 2.000 anos
Roberto Pompeu de Toledo

(APESAR DESSE ARTIGO REMETER-SE AO ANO DE 1992, SEUS DADOS SÃO BONS.- RECOMENDA-SE. - FABIO VALIM)

Não há quem desconheça esta história. Tem um presépio no começo, pregação e milagres no meio e, no fim, um trágico ato de solidão, humilhação e morte. Não há história mais contada, de geração em geração, mais dissecada nos livros, nem mais repisada, nas artes plásticas, nos últimos 2.000 anos. Conhecem-se detalhes ínfimos. Por exemplo, que havia um burro e urna vaca na gruta, no nascimento do menino. Quatro autorizados historiadores, Mateus, Marcos, Lucas e João, também chamados evangelistas, deixaram para nossa perpétua memória o registro de como se passaram as coisas. Por vezes tiveram mesmo o cuidado de enquadrar o relato central dentro de seu devido pano de fundo histórico, como Lucas, ao escrever que tudo começou quando o rei Herodes reinava na Judéia, sendo Quirino governador da Síria, e na ocasião em que Augusto, imperador de Roma, ordenou um censo universal. E assim poderíamos prosseguir, chegar ao fim do parágrafo em perfeita paz e excelsa glória e até encerrar o assunto por aqui, pois se a história é sobejamente conhecida não há o que acrescentar, se não fosse um detalhe: o que se concluiu até agora é falso.
Não há história mais cheia de furos, esta é a verdade. Os relatos são confusos, as zonas de sombra se sucedem, as contradições abundam. Caso se leia cada Evangelho por si, verticalmente, muito bem - cada história até que exibe certa coerência. O problema começa quando se parte para a leitura horizontal, comparando um com outro. Em Mateus, José é avisado por um anjo do próximo e auspicioso nascimento. Em Lucas, é com Maria que isso acontece. Em Mateus, o menino recém-nascido é visitado por reis magos, ou apenas "magos", como ele prefere. Já em Lucas quem o visita são pastores. Fez-se a conciliação no presépio juntando magos e pastores, e até acrescentando a eles uma vaquinha e um burrinho. Por falar nisso, de onde surgiram tais animais? Não há registro deles nos Evangelhos. A rigor, também não há registro de gruta ou estábulo. O que há é uma referência, em Lucas, a uma manjedoura, onde se colocou o bebê, "porque não havia lugar para eles na sala". O texto é obscuro, mas em todo caso fala em "sala", não em gruta ou estábulo, e dá a entender que se providenciou uma manjedoura à falta de berço, não mais que isso. O resto - uma noite passada no estábulo, à falta de alojamento na cidade, a vaca, o burro... esse resto é folclore. não registro dos Evangelhos.
Quando se compara os evangelistas com outras fontes, externas a eles, o resultado pode ser desastroso. Veja-se o caso do douto Lucas, quando dá suas coordenadas históricas - ele erra tudo. O rei Herodes, da Judéia, já havia morrido, quando Quirino passou a governar a Síria. Portanto, pelo simples e bom motivo de que não houve simultaneidade entre ambos os governos, nada pode ter acontecido quando um e outro governavam simultaneamente. E mais: não se tem notícia de censo universal algum ordenado por Augusto. É fácil concluir que estamos no meio de um cipoal. Que história era mesmo essa? Quem nasceu onde, e quando? Há enormes dificuldades, sim. Por vezes sentimo-nos perdidos na floresta, sem bússola. Mas há também uma boa notícia, para a qual se pede a gentileza da atenção do distinto público. Lá vai: nos últimos anos. tem-se registrado um notável progresso nas pesquisas sobre Jesus.
O que se vai abordar aqui é o Jesus histórico. Que isso fique claro, de uma vez por todas. Não é o Jesus teológico. Não é o Cristo dos altares. Tampouco é o Jesus de cada um. nascido no recôndito recanto da intimidade onde brota, ou não brota, a fé. O Jesus em questão é o que nasceu, viveu e morreu na Palestina, concretamente, num determinado período histórico. Sobre esse Jesus um dos maiores estudiosos do Novo Testamento neste século, senão o maior, o alemão Rudolf Bultmann, escreveu, nos anos 20: "...já não podemos conhecer qualquer coisa sobre a vida e a personalidade de Jesus, uma vez que as primitivas fontes cristãs não demonstram interesse por qualquer das duas coisas, sendo além disso fragmentárias e muitas vezes lendárias, e não existem outras fontes". Bultmann era pessimista, como se vê, a ponto de depor as armas, no que se refere à pesquisa histórica de Jesus. Compare-se agora sua afirmação com outra, formulada em 1985 por um respeitado especialista irlandês, E.P. Sanders: "A opinião predominante em nossos dias parece consistir em que podemos conhecer muito bem o que Jesus queria dizer, que podemos saber muito sobre o que ele disse..."

Que houve, entre os anos 20 e os 80, que aumentou assim a confiança nas pesquisas? Muita coisa: descobertas de manuscritos e sítios arqueológicos, uma nova mentalidade na abordagem do assunto, um rigor crescente. O otimismo que passou a contagiar os especialistas é ilustrado pelo fato de ser farta, e crescente, a produção intelectual no setor. A bibliografia é imensa. Este artigo se baseará em seis livros recentes, três saídos ou que sairão em breve no Brasil e outros três recém-publicados em língua inglesa. Um desses livros, cuja edição brasileira acaba de ser lançada, é Jesus no Judaísmo, de James H. Charlesworth, professor da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. Depois de citar as opiniões acima transcritas, de Bultmann e Sanders, Charlesworth acrescenta, a respeito do avanço das pesquisas: "... o fugidio pano de fundo da vida de Jesus está agora muito mais claro do que era, mesmo há vinte anos".
Estamos num mundo de alta erudição. De gente capaz de mergulhar num papiro em hebraico ou grego antigo e voltar à tona misturando o resultado com os recursos da moderna antropologia. Sobretudo, estamos num mundo de obcecados, de estudiosos que consagram a vida a meditar sobre um só assunto, e dos quais se exige, entre outros talentos, um tirocínio de Sherlock Holmes. Tome-se o caso da análise do professor Joel B. Green de uni versículo que aparece em Mateus e também no chamado Evangelho de Pedro, um dos vários Evangelhos ditos apócrifos, de confecção considerada tardia, ou seja, já muito distanciada da morte de Jesus, e não reconhecidos pela Igreja. O versículo refere-se ao momento em que, com Jesus já morto e sepultado, os sacerdotes dizem a Pilatos: "Ordena pois que o sepulcro seja guardado com segurança até o terceiro dia, para que os discípulos não venham roubá-lo e depois digam ao povo: Ele ressuscitou dos mortos" (Mt 27:64). Mais especificamente, a questão repousa sobre um trecho que aparece idêntico, em Mateus e em Pedro: "...para que os discípulos não venham roubá-lo..." Quem copiou quem? Mateus copiou Pedro ou Pedro copiou Mateus?
Naturalmente, a dúvida só surgiu por conta de especialistas que passaram a sustentar a tese de que, ao contrário de se tratar de um texto tardio, ou seja, já do segundo século depois de Cristo, como em geral ocorre com os apócrifos, o Evangelho de Pedro seria um documento de alto valor, cronologicamente situado ainda à frente dos quatro Evangelhos oficiais, ou canônicos, que se considera escritos mais ou menos entre os anos 70 e 100 do século 1.
Green pegou aquele fiapo de frase, "para que os discípulos não venham roubá-lo", e se pôs ao trabalho. Descobriu que a palavra "discípulo" é comum em Mateus, que a usa 73 vezes, mais do que qualquer outro dos três evangelistas canônicos. Já no Evangelho de Pedro, não aparece nenhuma outra vez. O verbo "roubar" (klepto, no original grego) aparece quatro vezes em Mateus e, de novo, nenhuma em Pedro. Enfim, a preposição "para", no sentido de "a fim de" (mepote, em grego), aparece sete outras vezes em Mateus, e apenas uma outra em Pedro. Conclusão: o cacoete verbal, ou, para ser mais elegante, o "estilo", é de Mateus. Com toda a probabilidade, é ele a matriz. Pedro, ou seja lá quem for o autor que é chamado de "Pedro", já que nunca se tem certeza das atribuições de autoria, mesmo no caso dos quatro evangelistas consagrados, copiou-o. Portanto, seu Evangelho é posterior.
Separar entre a documentação antiga o que tem valor e o que não tem é uma das trabalheiras dos pesquisadores. O público leigo em geral tem fascinação pelos evangelhos apócrifos - a fascinação de entrar num território proibido. Eles são fascinantes mesmo, pelas extravagâncias que chegam a conter. Num deles, Jesus é um menino mágico que faz passarinhos de barro e, depois de bater palmas, põe-nos a voar. Noutro, Jesus, também menino, roga uma maldição e faz cair morta uma criança que o perseguia. Outra cena de infância é mais formidável ainda. Jesus quer brincar com um grupo de crianças, mas elas fogem dele e se refugiam numa casa. Jesus chega e pergunta à dona da casa onde estão as crianças. A dona da casa, para protegê-las, diz que ali não tem crianças. O barulho que ele está ouvindo em outro cômodo é de bodes. Jesus ordena então: "Deixa os bodes saírem". A mulher vai abrir a porta do cômodo e descobrir o quê? Bodes. Jesus transformara seus desafetos em bodes, de vingança, para horror da mulher.
Com uma ou outra exceção, os apócrifos são fáceis de descartar. Trata-se de coletâneas de histórias inventadas, algumas em meios populares onde a religião ainda mal se separava da feitiçaria. Tarefa muito mais complicada, a que todos os pesquisadores do Jesus histórico se dão, é tentar discernir, nos evangelhos canônicos, o que pode ser considerado realmente de Jesus e o que é elaboração posterior. Os canônicos foram escritos a uma distância entre quarenta e setenta anos da morte de Jesus por autores que possivelmente não foram testemunhas de primeira mão de sua vida. Mesmo no caso dos dois evangelistas que são incluídos no time original dos doze apóstolos, Mateus e João, é muito discutível se foram eles mesmos, ou pelos menos aqueles mesmos Mateus e João que conheceram Jesus, os autores dos textos.
Como saber o que é "histórico" em seus relatos? Os estudiosos utilizam-se de variados critérios. Um deles, óbvio, é o da múltipla atestação. Quanto mais um episódio, ou dito de Jesus, for repetido, pelos diferentes evangelistas, mais chance tem de ser verdadeiro. Outro, mais refinado, é o do embaraço. Se um determinado episódio era embaraçoso para as lucubrações teológicas dos primeiros cristãos, e mesmo assim foi conservado nos Evangelhos, é porque deve ser verdadeiro. É o caso do batismo de Jesus por João Batista. Foi muito difícil explicar às primeiras comunidades cristãs por que o superior, isto é, Jesus, havia se deixado batizar pelo interior, isto é, o Batista. Se foi assim, e apesar disso foi consagrado nos textos, então é porque o episódio deve ser verdadeiro.
O estudo lingüístico, que se viu na comparação entre os textos de Mateus e o Evangelho de Pedro, é um dos instrumentos que se tem para a pesquisa sobre Jesus. Outro são as descobertas arqueológicas. E entre elas nenhuma se iguala, em qualidade e fartura, aos chamados Manuscritos do Mar Morto, um conjunto de papiros achado a partir de 1947 nas cavernas da região de Qumram, no moderno Israel. e que até agora ainda não foram completamente restaurados e decifrados. Os Manuscritos do Mar Morto têm servido para muita coisa, nos últimos quarenta anos, inclusive para uma exploração sensacionalista que se situa, na imaginação popular, naquele perigoso terreno entre as previsões de Nostradamus e o segredo dos discos voadores. Na verdade, sabe-se hoje muito bem o que eles são. São uma antiga biblioteca, eis tudo - e é muito. Inclusive, no início dos anos 50, depois da descoberta dos manuscritos, escavações realizadas nas proximidades pelo padre francês Roland de Vaux trouxeram à luz uma construção que, destruída e queimada no ano 68 da nossa era, concluiu-se tratar-se sem dúvida de um antigo convento.
A partir daí formou-se um impressionante consenso entre os especialistas - nas cavernas, os membros da seita de Qumram esconderam a biblioteca do convento. Viviam-se os dias tempestuosos da revolta judaica contra o domínio romano que resultaria, no ano 70 da nossa era, na destruição de Jerusalém. Esconder os manuscritos, acondicionados em jarras, na iminência de um ataque romano que realmente viria a varrê-los do mapa, foi a maneira que os membros da seita encontraram de preservar seus documentos para a posteridade.
A seita em questão, muito provavelmente, é a dos essênios, cujo rastro encontra-se em muitos outros textos da antiguidade. Na biblioteca que eles esconderam nas cavernas há de livros do Velho Testamento a documentos específicos da seita, como o Manual de Disciplina, que era seguido por seus membros. Os documentos foram datados de um período que vai do ano 200 antes de Cristo até 67 depois. Ou seja: muitos deles são até contemporâneos de Jesus. Há centenas de textos completos e milhares de fragmentos, que vêm sendo pacientemente remontados por uma comissão na qual se misturam especialistas judeus e cristãos, sob a supervisão do governo israelense. Decepção: até agora, apesar de serem documentos da mesma época, não há nenhuma menção a Jesus. Isso não invalida, no entanto, o imenso valor dos textos de Qumram para o conhecimento da época e do ambiente que circundava Jesus. "Penetrar no mundo dos Manuscritos do Mar Morto equivale a mergulhar no tempo e no ambiente ideológico de Jesus", escreve Charlesworth, o já citado autor de Jesus no Judaísmo.
Os textos de Qumram revelam idéias muito próximas das de Jesus. Havia entre os membros da seita uma acentuada escatologia, por exemplo - isto é, como em Jesus, um alerta permanente contra o fim dos tempos, que se considerava iminente. Havia também uma total entrega a Deus. Esses e outros traços comuns configuram uma espécie de elo perdido do pensamento judaico entre os tempos do Velho Testamento e o advento da era cristã e sugerem entre um e outro uma transição menos abrupta do que se chegou a supor. A seita de Qumram também escancara a realidade de um judaísmo vibrante e variado, nos tempos de Jesus, tão pouco unitário que alguns autores hoje preferem falar em "judaísmos", não num judaísmo só. No entusiasmo das primeiras descobertas chegou-se a imaginar um Jesus fortemente influenciado pela doutrina dos essênios, quando não um membro da seita.
Na verdade, tanto quanto há semelhanças, há diferenças, a mais gritante das quais é a atitude perante as regras judaicas de conduta. Os essênios são ainda mais fanáticos que os fariseus na sua observância. Já Jesus, como se sabe, disse que o "sábado foi feito para o homem, não no homem para o sábado". Ele dava muito pouca importância ao rigor imobilista com que os ortodoxos mandavam guardar o dia santo, como de resto a todas as outras proibições e imposições rituais. Ou melhor: ele estava aí era para subvertê-las mesmo, num contínuo chamamento para a superioridade da pureza e da devoção interiores, não exteriores.
Em todo caso, há sinais de influência essênia em Jesus, uma das quais, relativa à expressão "pobres de espírito", uma das fórmulas enigmáticas de Jesus - a outra é "o Filho do Homem" -, configura uma conclusão de Charlesworth que se poderia classificar de espetacular. "Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus", diz a primeira das bem-aventuranças, do Sermão da Montanha (Mt 5:3). Que pobres de espírito serão esses? Eis a resposta de Charlesworth: pobres de espírito, bem como pobres, "são termos técnicos, usados pelos essênios para se descreverem". O autor cita um dos documentos de Qumram, o chamado Manuscrito da Guerra, para desfiar numerosos exemplos em que os essênios chamam-se a si próprios de pobres, ou pobres de espírito, identificados como "os perfeitos do caminho", que acabarão por derrotar os iníquos.
Outra importante descoberta de manuscritos, feita até um pouco antes, em 1945, ocorreu no Egito, na região de Nag Hammadi. Entre os 53 documentos ali encontrados, todos em copta, a língua falada no Egito, nos primeiros anos da cristandade, inclui-se o chamado Evangelho de Tomé, uma coleção de 114 ditos de Jesus, enfileirados, um atrás do outro, em que alguns vêem a tradução de um original semita talvez dos primeiros tempos. No setor das ruínas desenterradas ultimamente cite-se a casa de Cafarnaum, que Charlesworth, entre outros especialistas, está convencido tratar-se da casa de São Pedro referida nos Evangelhos, entre muitos outros motivos pelo fato de terem sido encontrados anzóis num dos seus compartimentos, exatamente um dos instrumentos de trabalho de seu presumível proprietário. "A descoberta é virtualmente inacreditável e sensacional", observa Charlesworth. Nessa casa Jesus hospedou-se e operou milagres, segundo os Evangelhos. Charlesworth enfatiza, extasiado, que com a descoberta da casa de Pedro tem-se "o mais antigo santuário cristão já desenterrado em qualquer parte".
Fique-se por aqui, embora houvesse ainda muito o que enumerar, em matéria de descobertas. Acrescente-se apenas que a elas juntou-se nos últimos anos uma nova e muito produtiva mentalidade, a de analisar Jesus à luz do ambiente, dos documentos e da cultura judaica em que, naturalmente, estava imerso, algo que, por mais óbvio, não se fazia, por preconceito ou rivalidade religiosa. A soma de tudo isso é auspiciosa. Um escritor inglês do qual adiante se falará mais extensamente. A.N. Wilson, autor de outra das obras saídas por estes dias - Jesus, a Life -, chega a afirmar: "O mundo de Jesus tem sido colocado num foco mais preciso por nossa geração do que por qualquer outra geração anterior, desde o ano de 70 desta era". O ano 70, como já se recordou, é o da arrasadora repressão promovida pelos romanos contra os judeus. De alguma forma, fisicamente, o mundo de Jesus morreu aí. Ao mesmo tempo, segundo prossegue Wilson, a fé católica enveredou por seu "caminho curioso", caracterizado por muito "pouco interesse nas origens semitas de Jesus e ainda menor conhecimento delas". Afinal, quem era Jesus? E por que incomodava tanto a ponto de ser condenado a morrer na cruz?

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

COMO JESUS FOI CRUCIFICADO - NOVAS EVIDENCIAS


COMO JESUS FOI CRUCIFICADO?

Arqueólogos sugerem que Cristo estaria sentado na cruz com as pernas flexionadas, sem uma coroa de espinhos e nu

Rodrigo Cardoso
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Não é exagero afirmar que a cruz é o alicerce do cristianismo. Instrumento dantesco na mão dos romanos, utilizado como pena capital contra escravos e revoltosos, ela ganhou contornos de altruísmo por volta das 15h da Sexta-feira da Paixão do ano 30, quando Jesus de Nazaré teria morrido pendurado em duas estacas de oliveiras nodosas em forma de “t”. Seus discípulos não estariam ao pé do calvário. Mas as primeiras linhas escritas pelos quatro evangelistas para perpetuar os ensinamentos desse homem que cresceu na Galileia relatavam justamente os episódios de sua Paixão e morte.
Não é de se estranhar, portanto, que, quase dois mil anos depois, a iconografia símbolo do cristianismo esteja apoiada na figura de um Jesus magro e frágil, com barba, pouca roupa, coroa de espinhos e preso a uma cruz pelas palmas das mãos e peitos dos pés. Mas essa imagem de Cristo no ato de seu suplício estaria fiel à história? “Não”, opina o especialista em arqueologia pela Universidade Hebraica de Jerusalém Rodrigo Pereira da Silva. “Acredito na hipótese de que Jesus tenha sido crucificado sentado, apoiado em uma madeira que existia na cruz abaixo de seu quadril, com as pernas dobradas para a direita, nu e sem a coroa de espinhos”, diz.
Professor do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), Silva faz essa afirmação baseado, principalmente, em pistas deixadas pelos textos bíblicos e pela literatura romana. O acesso a especulações sobre a real posição de Jesus na cruz (leia quadro) tem sido cada vez mais possível graças a algumas obras escritas por especialistas em religião do Oriente Médio. Lançadas recentemente, elas trazem a discussão em torno dessa questão, difundida no meio acadêmico, para perto do grande público.
Em “Os Últimos Dias de Jesus – a Evidência Arqueológica” (Ed. Landscape), o arqueólogo Shimon Gibson, da Universidade da Carolina do Norte (EUA), escreve que, “para prolongar a agonia e o momento da morte, os romanos posicionavam a vítima em uma espécie de assento de madeira, ou suporte de forquilha, na metade inferior da cruz”. Havia um motivo. Sem essa espécie de apoio, o corpo tombaria e a morte por asfixia ocorreria mais rapidamente. A intenção, portanto, era dar à vítima a possibilidade de ela respirar para que tivesse uma sobrevida e sofresse por mais tempo antes da morte.
“A pessoa morre mais lentamente por asfixia dolorosa, porque os músculos do diafragma vão parando de funcionar até que ela deixe de respirar”, explica John Dominic Crossan, professor de estudos bíblicos da Universidade DePaul (EUA), no livro “Em Busca de Jesus” (Ed. Paulinas). Esse tipo de assento é descrito, ainda, pelo historiador espanhol Joaquín Gonzalez Echegaray, do Instituto Bíblico e Arqueo­lógico de Jerusalém, em “Arqueología y Evangelios” (Ed. Verbo Divino), como uma espécie de “conforto” com objetivo cruel.
Detalhes de como os braços e as pernas de Cristo foram posicionados não são fornecidos pelos evangelistas. “Os soldados romanos, que teriam o que falar, não tinham interesse. E os discípulos, que deveriam escrever, não tinham os dados”, diz Pedro Lima Vasconcellos, professor de pós-graduação de ciências da religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. As pistas, então, são fornecidas pela ciência.
Em 1968, uma ossada de um homem que viveu no século I foi encontrada em Jerusalém. Sua cartilagem próxima ao calcanhar direito apresentava um prego de ferro de 11,5 cm de comprimento preso a uma madeira. É a única vítima de crucificação descoberta por arqueólogos até hoje. “Se trabalharmos com a hipótese de que um único prego estaria atravessando os dois pés, pela forma como a ossada foi encontrada, as pernas estariam flexionadas para a direita”, diz Silva, da Unasp. Segundo o historiador AndréChevitarese, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o que há de histórico no relato da Paixão de Cristo são a prisão e a crucificação. “O que ocorreu no meio e depois são relatos teológicos que passam pelo exercício da fé”, diz ele. “Se ele morreu pregado ou amarrado, estendido ou sentado são detalhes para aumentar ou diminuir a dramaticidade.”
Milhares de crucificações foram patrocinadas pelos romanos. A de Jesus foi a única que se perpetuou. Como pode um herói morrer de uma forma tão humilhante e seu nome viajar por gerações? Para a ciência, ele ainda é um quebra-cabeça com muitas peças desaparecidas. Mas não há mistério em um ponto: ele deu novo significado à cruz, hoje objeto de salvação e conforto espiritual, não de tormento.
CRISTO NA CRUZ 
Com base em descobertas arqueológicas, escritos dos evangelistas e na literatura romana, especialistas sugerem como Jesus teria passado as últimas três horas de vida na Terra
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ESTE MATERIAL FOI RETIRADO DO SITE DA ''ISTO É''. LINK A SEGUIR:

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Em busca do Jesus Histórico - 1

O JESUS HISTÓRICO

Jesus antes de Cristo
Numa incrível viagem à Palestina do século 1, historiadores e arqueólogos reconstituem com era a vida do homem comum que se tornou o filho de Deus para os mais de 2 bilhões de cristãos
por Rodrigo Cavalcante
Cristo está em toda parte: nas obras mais importantes da história da arte, nos roteiros de Hollywood, nos letreiros luminosos de novas igrejas, nas canções evangélicas em rádios gospel, nos best-sellers de auto-ajuda, nos canais de televisão a cabo, nos adesivos de carro, nos presépios de Natal. Onde você estiver, do interior da floresta amazônica às montanhas geladas do Tibete, sempre será possível deparar com o símbolo de uma cruz, pena de morte comum no Império Romano à qual um homem foi condenado há quase 2 mil anos. Para mais de 2 bilhões de pessoas esse homem era o próprio messias (“Cristo”, do grego, o ungido) que ressuscitara para redimir a humanidade.
Embora o mundo inteiro (inclusive os não-cristãos) esteja familiarizado com a imagem de Cristo, até há bem pouco tempo os pesquisadores eram céticos quanto à possibilidade de descobrir detalhes sobre a vida do judeu Yesua (Jesus, em hebraico), o homem de carne e osso que inspirou o cristianismo. “Isso está começando a mudar”, diz o historiador André Chevitarese, professor de História Antiga da Universidade Federal do Rio de Janeiro e um dos especialistas no Brasil sobre o “Jesus histórico” – o estudo da figura de Jesus na história sem os constrangimentos da teologia ou da fé no relato dos evangelhos. Embora tragam detalhes do que teria sido a vida de Jesus, os evangelhos são considerados uma obra de reverência e não um documento histórico.Chevitarese e outros pesquisadores acreditam que, apesar de não existirem indícios materiais diretos sobre o homem Jesus, arqueólogos e historiadores podem ao menos reconstituir um quadro surpreendente sobre o que teria sido a vida de um líder religioso judeu naquele tempo, respondendo questões intrigantes sobre o ambiente e o cotidiano na Palestina onde ele vivera por volta do século I.
Nazaré, entre 6 e 4 a.C.
Uma aldeia agrícola com menos de 500 habitantes, cuja paisagem é pontuada por casas pobres de chão de terra batida, teto de estrados de madeira cobertos com palha, muros de pedras coladas com uma argamassa de barro, lama ou até de uma mistura de esterco para proteger os moradores da variação da temperatura no local. Segundo os arqueólogos, essa é a cidade de Nazaré na época em que Jesus nasceu, provavelmente entre os anos 6 e 4 a.C., no fim do reinado de Herodes. Isso mesmo: segundo os historiadores, Jesus deve ter nascido alguns anos antes do ano 1 do calendário cristão. “As pessoas naquele tempo não contavam a passagem do tempo como hoje, por meio da indicação do ano”, explica o historiador da Unicamp Pedro Paulo Funari. “O cabeçalho dos documentos oficiais da época trazia apenas como indicação do tempo o nome do regente do período, o que leva os pesquisadores a crer que Jesus teria nascido anos antes do que foi convencionado.”
Se você também está se perguntando por que os historiadores buscam evidências do nascimento de Jesus na cidade de Nazaré – e não em Belém, cidade natal de Jesus, de acordo com os evangelhos de Mateus e Lucas –, é bom saber que, para a maioria dos pesquisadores, a referência a Belém não passa de uma alegoria da Bíblia. Na época, essa alegoria teria sido escrita para ligar Jesus ao rei Davi, que teria nascido em Belém e era considerado um dos messias do povo judeu. Ou seja: a alcunha “Jesus de Nazaré” ou “nazareno” não teria derivado apenas do fato de sua família ser oriunda de lá, como costuma ser justificado.
Mesmo que os historiadores estejam certos ao afirmarem que o nascimento em Belém seja apenas uma alegoria bíblica, o entorno de uma casa pobre na cidade de Nazaré daquele tempo não deve ter sido muito diferente do de um estábulo improvisado como manjedoura. Como a residência de qualquer camponês pobre da região, as moradias eram ladeadas por animais usados na agricultura ou para a alimentação de subsistência. A dieta de um morador local era frugal: além do pão de cada dia (no formato conhecido no Brasil hoje como pão árabe), era possível contar com azeitonas (e seu óleo, o azeite, usado também para iluminar as casas), lentilhas, feijão e alguns incrementos como nozes, frutas, queijo e iogurte. De acordo com os arqueólogos, o consumo de carne vermelha era raro, reservado apenas para datas especiais. O peixe era o animal consumido com mais freqüência pela população, seco sob o sol, para durar. A maioria dos esqueletos encontrados na região mostra deficiência de ferro e proteínas. Essa parca alimentação é coerente com relatos como o da multiplicação dos pães, no Evangelho de Mateus, no qual os discípulos, preocupados com a fome de uma multidão que seguia Jesus, mostram ao mestre cinco pães e dois peixes, todo o alimento de que dispunham.
Se alguém presenciasse o nascimento de Jesus, provavelmente iria deparar com um bebê de feições bem diferentes da criança de pele clara que costuma aparecer nas representações dos presépios. Baseados no estudo de crânios de judeus da época, pesquisadores dizem que a aparência de Jesus seria mais próxima da de um árabe (de cabelos negros e pele morena) que da dos modelos louros dos quadros renascentistas. Seu nome, Jesus, uma abreviação do nome do herói bíblico Josué, era bastante comum em sua época. Ainda na infância, deve ter brincado com pequenos animais de madeira entalhada ou se divertido com rudimentares jogos de tabuleiro incrustados em pedras. Quanto à família de Jesus, os pesquisadores não acreditam que ele tenha sido filho único. Afinal, era comum que famílias de camponeses tivessem mais de um filho para ajudarem na subsistência da família. Isso poderia explicar o fato de os próprios evangelhos falarem em irmãos de Jesus, como Tiago, José, Simão e Judas. “As igrejas Ortodoxa e Católica preferiram entender que o termo grego adelphos, que significa irmão, queria dizer algo próximo de discípulo, primo”, dizChevitarese.
Assim como outros jovens da Galiléia, é provável que ele não tenha tido uma educação formal ou mesmo a chance de aprender a ler e escrever, privilégio de poucos nobres. Ainda assim, nada o impediria de conhecer profundamente os textos religiosos de sua época transmitidos oralmente por gerações.
Política, religião e sexo
Desde aquele tempo, a região em que Jesus vivia já era, digamos, um tanto explosiva. O confronto não se dava, é claro, entre judeus e muçulmanos (o profeta Maomé só iria receber sua revelação mais de cinco séculos depois). A disputa envolvia grupos judaicos e os interesses de Roma, cujo império era o equivalente, na época, ao que os Estados Unidos são hoje. E, assim como grupos religiosos do Oriente Médio resistem atualmente à ocidentalização dos seus costumes, diversos grupos judaicos da época se opunham à influência romana sobre suas tradições. Na verdade, fazia séculos que os judeus lutavam contra o domínio de povos estrangeiros. Antes de os romanos chegarem, no ano 63 a.C., eles haviam sido subjugados por assírios, babilônios, persas, macedônios, selêucidas e ptolomeus. Os judeus sonhavam com a ascensão de um monarca forte como fora o rei Davi, que por volta do século 10 a.C. inaugurara um tempo de relativa estabilidade. Não à toa, Davi ficaria lembrado como o messias (ungido por Javé) e, assim como ele, outros messias eram aguardados para libertar o povo judeu (veja quadro na pág. 33).
A resistência aos romanos se dava de maneiras variadas. A primeira delas, e mais feroz, era identificada como simples banditismo. Nessa categoria estavam bandos de criminosos formados por camponeses miseráveis que atacavam comerciantes, membros da elite romana ou qualquer desavisado que viajasse levando uma carga valiosa.
Além do banditismo, havia a resistência inspirada pela religião, principalmente a dos chamados movimentos apocalípticos. De acordo com os seguidores desses movimentos, Israel estava prestes a ser libertado por uma intervenção direta de Deus que traria prosperidade, justiça e paz à região. A questão era saber como se preparar para esse dia.
Alguns grupos, como os zelotes, acreditavam que o melhor a fazer era se armar e partir para a guerra contra os romanos na crença de que Deus apareceria para lutar ao lado dos hebreus. Para outros grupos, como os essênios, a violência era desnecessária e o melhor mesmo a fazer era se retirar para viver em comunidades monásticas distantes das impurezas dos grandes centros. E Jesus, de que lado estava?
É quase certo que Jesus tenha tido contato com ao menos um líder apocalíptico de sua época, que preparava seus seguidores por meio de um ritual de imersão nas águas do rio Jordão. Se você apostou em João Batista, acertou.
O curioso é que, para a maioria dos pesquisadores, incluindo aí o padre católico John P. Meier, autor da série sobre o Jesus histórico chamada Um Judeu Marginal, o movimento apocalíptico de João Batista deve ter sido mais popular, em seu tempo, do que a própria pregação de Jesus. Os historiadores acreditam que é bem provável que Jesus, de fato, tenha sido batizado por João Batista nas margens do rio Jordão, e que o encontro deve ter moldado sua missão religiosa dali em diante.
Apesar de não haver nenhuma restrição para que um líder religioso judeu tivesse relações com mulheres em seu tempo, ninguém sabe ainda se entre as práticas espirituais de Jesus estaria o celibato. Da mesma forma, afirmar que ele teve relações com Maria Madalena, como no enredo de livros como O Código Da Vinci, também não passaria de uma grande especulação.
Uma morte marginal
O pesquisador Richard Horsley, professor de Ciências da Religião da Universidade de Massachusetts, em Boston, é categórico: a morte de Jesus na cruz em seu tempo foi muito menos perturbadora para o Império Romano do que se costuma imaginar. Horsley e outros pesquisadores desapontam os cristãos que imaginam a crucificação como um evento que causara, em seu tempo, uma comoção generalizada, como naquela cena do filme O Manto Sagrado em que nuvens negras escurecem Jerusalém e o mundo parece prestes a acabar. Apesar de ter sido uma tragédia para seus seguidores e familiares, a morte do judeu Yesua deve ter passado praticamente despercebida para quem vivia, por exemplo, no Império Romano. Ou seja: se existisse uma rede de televisão como a CNN, naquele tempo, é bem possível que a morte de Jesus sequer fosse noticiada. E, caso fosse, dificilmente algum estrangeiro entenderia bem qual a diferença da mensagem dele em meio a tantas correntes do judaísmo do período – assim como poucas pessoas no Ocidente compreendem as diferenças entre as diversas correntes dentro do Islã ou do budismo.
Os pesquisadores sabem, no entanto, que Jesus não deve ter escolhido por acaso uma festa como a Páscoa para fazer sua pregação em Jerusalém. A data costumava reunir milhares de pessoas para a comemoração da libertação do povo hebreu do Egito. No período que antecedia a festa, o ar tornava-se carregado de uma forte energia política. Era quando os judeus pobres sonhavam com o dia em que conseguiriam ser libertados dos romanos.
Para a elite judaica que vivia em Jerusalém, contudo, as manifestações anti-Roma não eram nada bem-vindas. Afinal, como ela se beneficiava da arrecadação de impostos da população de baixa renda, boa parte dela tinha mais a perder que a ganhar com revoltas populares que desafiassem os dirigentes romanos, cujos estilos de vida eram copiados por meio da construção de suntuosas vilas (espécie de chácaras luxuosas) nas cercanias de Jerusalém.
A própria opulência do Templo do Monte de Jerusalém, reconstruído por Herodes, o Grande, parecia uma evidência de que a aliança entre os romanos e os judeus seria eterna. A construção era impressionante até mesmo para os padrões romanos, o que fazia de Jerusalém um importante centro regional em sua época.
Em meio às festas religiosas, o comércio da cidade florescia cada vez mais. Vendia-se de tudo por lá, incluindo animais para serem sacrificados no templo. Os mais ricos podiam comprar um cordeiro para ser sacrificado e quem tivesse menos dinheiro conseguia comprar uma pomba no mercado logo em frente. A cura de todos os problemas do corpo e da alma (na época, as doenças eram relacionadas à impureza do espírito) passava pela mediação dos rituais dos sacerdotes do templo.
Não é difícil imaginar a afronta que devia ser para esses líderes religiosos ouvir que um judeu rude da Galiléia curava e livrava as pessoas de seus pecados com um simples toque, sem a necessidade dos sacerdotes. A maioria dos pesquisadores concorda que atos subversivos como esses seriam suficientes para levar alguém à crucificação.
Quase tudo o que os pesquisadores conhecem sobre a crucificação deve-se à descoberta, em 1968, do único esqueleto encontrado de um homem crucificado em Giv’at há-Mivtar, no nordeste de Jerusalém. Após uma análise dos ossos, eles concluíram que os calcanhares do condenado foram pregados na base vertical da cruz, enquanto os braços haviam sido apenas amarrados na travessa. A raridade da descoberta deve-se a um motivo perturbador: a pena da crucificação previa a extinção do cadáver do condenado, já que o corpo do crucificado deveria ser exposto aos abutres e aos cães comedores de carniça. A idéia era evitar que o túmulo do condenado pudesse servir de ponto de peregrinação de manifestantes. De qualquer forma, a descoberta desse único esqueleto preservado prova que, em alguns casos, o corpo poderia ser reivindicado pelos parentes do morto, o que talvez tenha acontecido com Jesus.
O que aconteceu após sua morte? Para os pesquisadores, a vida do Jesus histórico encerra-se com a crucificação. “A ressurreição é uma questão de fé, não de história”, diz Richard Horsley.
Tudo o que os historiadores sabem é que, apesar de pequeno, o grupo de seguidores de Jesus logo conseguiria atrair adeptos de diversas partes do mundo. E foi um dos novos convertidos, um ex-soldado que havia perseguido cristãos e ganhara o nome de Paulo, que se tornaria uma das pedras fundamentais para a transformação de Jesus em um símbolo de fé para todo o mundo. Com sua formação cosmopolita, Paulo lutou para que os seguidores de Jesus trilhassem um caminho independente do judaísmo, sem necessidade de obrigar os convertidos a seguirem regras alimentares rígidas ou, no caso dos homens, ser obrigados a fazer a circuncisão. A influência de Paulo na nova fé é tão grande que há quem diga que a mensagem de Jesus jamais chegaria aonde chegou caso ele não houvesse trabalhado com tanto afinco para sua difusão.
Mesmo para quem não acredita em milagres, não há como negar que Paulo e os outros seguidores de Jesus conseguiram uma proeza e tanto: apenas três séculos após sua morte, transformaram a crença de uns poucos judeus da Palestina do século I na religião oficial do Império Romano. Por essa época, a vida do judeu Yesua já havia sido encoberta pela poderosa simbologia do Cristo: assim como os judeus sacrificavam cordeiros para Javé, o Cristo se tornaria símbolo do cordeiro enviado por Deus para tirar os pecados do mundo. Desde então, a história de boa parte do mundo está dividida entre antes e depois de sua existência.
Escavando Jesus
Dois mil anos embaixo da terra
Objetos de cozinha, brinquedos, ferramentas de trabalho e documentos: escavações na Palestina, Iraque, Roma e Turquia revelam como era a vida no tempo de Jesus
Diversão infantil
Conhecidos desde o século 7 a.C., bonecos de barro com formas de animais eram brinquedos comuns na Galiléia, no tempo de Jesus
IlUminação
A luz interna das casas era feita por lamparinas a óleo – como esta, encontrada ao norte do atual Israel
Passatempo
Encontrado em Hazor, cidade bíblica no norte da Palestina, o jogo tinha tabuleiro de pedra e peões e dados feitos de ossos
Antes do plástico
Potes de cerâmica serviam para quase tudo. Estes, menores e com alças, achados em Megido, tinham vestígios de vinho
À mesa
A decantadeira de cerâmica – achada em 1905, no atual Israel – era usada para servir vinho, cerveja ou azeite
Oliveira
Moinhos como esse, em Cafarnaum, na Galiléia, movidos por tração humana ou animal, eram usados para obter azeite
Despensa
Jarros maiores de cerâmica serviam para guardar comida, principalmente grãos como a cevada e o trigo
Âncoras de pedra
Feitas no século 1 e achadas no mar da Galiléia, estas foram usadas por pescadores e comerciantes
Barco
Achado no mar da Galiléia e datado do século 1, esse era o modelo mais comum entre os pescadores
Manuscritos
A escrita era para poucos. E a maioria dos textos eram religiosos. Como o “Fragmento Trever”, parte dos Manuscritos do Mar Morto
Sandálias
Como estas, achadas em Massada (Israel), tinham solado e palmilhas de couro e cadarços de tecido
Tinteiro
De cerâmica, feito no século 1, encontrado numa das cavernas de Qumram
Fé e poder
Jerusalém era o centro religioso e político dos judeus. Lá foi encontrado o mais antigo desenho da menorá, do século o 1 a.C.
Graal
Feitos (adivinhem!) de cerâmica, estes eram os copos usados no século 1
Dinheiro
Moeda de bronze do reino de Herodes, o Grande, do século 1 a.C.
Crucificação
Parte de osso do calcanhar perfurado por prego de ferro, datado do século 1
Ver o peso
Caneca de pedra usada como medida no mercado de Jerusalém
Nossa Senhora de Ísis
De onde pode ter se originado uma das mais belas imagens cristãs
Se você acha que conhece a imagem ao lado, é bom dar uma olhada com um pouco mais de atenção. À primeira vista, ela parece, de fato, representar a Nossa Senhora embalando o menino Jesus. Mas não é. A imagem da estátua é uma representação da deusa egípcia Ísis oferecendo o peito a seu filho Hórus. Apesar de não haver como provar que as imagens de Nossa Senhora tenham sido inspiradas diretamente em representações como essa, os pesquisadores sabem que o cristianismo sofreu, em seus primórdios, a influência de diversos cultos que faziam parte dos mundos egípcio e greco-romano. “Desde seu início, o cristianismo tinha uma diversidade assombrosa”, diz o professor de Teologia Gabriele Cornelli, da Universidade de Brasília. Na região do Egito, por exemplo, prevalecera o chamado cristianismo gnóstico, cujos textos revelam um Jesus bem mais parecido com um monge oriental. Alguns historiadores acreditam até que alguns cristãos gnósticos possam ter sido influenciados por missionários budistas vindos da Índia.
O luxo que vem de Roma
Diferentemente de Jesus, nobres judeus viviam muito bem, obrigado
Para a elite judaica que vivia na Palestina do século I, levar uma vida com requinte e elegância era sinônimo de viver como os romanos. Escavações arqueológicas em Jerusalém e outras cidades indicam uma clara influência da arquitetura e da decoração de Roma no interior das mansões. Para criar uma atmosfera palaciana, era comum, no interior das casas, a reprodução de afrescos e desenhos decorativos com motivos florais e geométricos. Em ambientes maiores, as colunas no estilo romano eram indispensáveis, assim como o uso de mármore para o acabamento dos detalhes – quem não podia pagar pelo mármore usava uma tinta de cor parecida para manter a aura palaciana. Fontes, vasos vitrificados e pisos de mosaico colorido também faziam parte do sonho de consumo dos novos ricos de Jerusalém, que costumavam receber os amigos influentes recostados confortavelmente no triclinium, espécie de divã usado na hora das refeições. Resquícios da importação de vinhos e outros ingredientes nobres da cozinha mediterrânea, como o garum, um molho especial de peixe típico da cidade de Pompéia, também foram encontrados no interior das mansões. Algumas delas deviam ter uma vista privilegiada para o Templo de Jerusalém, de onde os nobres podiam assistir confortavelmente à movimentação dos peregrinos ou mesmo à condenação à morte de rebeldes judeus.
Os outros messias
Os líderes religiosos judeus que não emplacaram na história
Na época de Jesus, a figura do messias esperado para libertar o povo judeu era muito diferente da nossa atual concepção do messias cristão. Para início de conversa, o messias do povo hebreu não precisava ser nenhum santo. Podia ter várias mulheres (como tivera o rei Davi) e devia empregar a violência, caso fosse necessário, para garantir a autonomia do povo hebreu frente a seus inimigos. Não é à toa que, décadas antes e depois da morte de Jesus, diversos outros homens identificados como messias lideraram movimentos religiosos na região. Por volta do ano 4 a.C., por exemplo, um homem conhecido como Judas, filho de Ezequias, liderou uma revolta contra Herodes na cidade de Séforis, na Galiléia. Judas e seus seguidores chegaram a invadir um palacete na cidade para roubar armas para seu exército de oposição aos romanos. No mesmo ano, outras revoltas foram desencadeadas pelos líderes messiânicos Simão e Astronges. O principal objetivo desses movimentos era derrubar a dominação romana e restaurar os ideais tradicionais do povo hebreu. Na década de 60 do século I, o líder Simão Bar Giora organizou um exército de camponeses que chegou a assumir o controle de diversas regiões da Palestina daquele século. De acordo com os historiadores, o último e mais famoso líder messiânico a comandar uma revolta contra os romanos na região foi o judeu Bar Kokeba. Entre os anos 132 e 135, Kokeba teria liderado uma batalha sem precedentes contra os romanos, conquistando territórios por meio de uma tática de guerrilha que incluía esconderijos em cavernas e construção de fortalezas em montanhas. A rebelião somente foi aniquilada depois que o poderoso Exército romano mobilizou uma força maciça para pôr fim à guerra que se arrastava pelo terceiro ano. Não deixa de ser emblemático o fato de que o pacífico Jesus de Nazaré tenha ficado para a história como o “verdadeiro messias” – logo ele, que nunca liderara um exército.
Saiba mais
Livros
Excavating Jesus – Beneath the Stones, Behind the Texts, John Dominic Crossan e Jonathan L. Reed, HarperSanFrancisco, 2002
O diferencial do livro está no fato de ele trazer as descobertas arqueológicas mais importantes para que se possa entender como era a vida no tempo de Jesus
Bandidos, Profetas e Messias, Richard A. Horsley e John S. Hansom, Paulus, 1995
O melhor guia para quem quer compreender os diversos movimentos religiosos e políticos no tempo de Jesus
Jesus, uma Biografia Revolucionária, John Dominic Crossan, Imago, 1995
Um retrato fascinante sobre o que podemos saber sobre a figura histórica de Jesus escrito por um dos maiores especialistas sobre o tema
Um Judeu Marginal – Repensando o Jesus Histórico, John P. Meier, Imago, 1992
Uma obra corajosa sobre a vida marginal de Jesus em seu tempo escrita com rigor, erudição e clareza
Jesus de Nazaré, uma Outra História, André Chevitarese, Gabriele Cornelli, Mônica Selvatici (orgs.), Annablume Editora, 2006
Coletânea de artigos dos maiores especialistas brasileiros sobre o Jesus histórico
Jesus, Coleção Para Saber Mais, Rodrigo Cavalcante e André Chevitarese, Editora Abril, 2003
Introdução rápida sobre a figura do Jesus na história escrita pelo autor desta reportagem em parceria com o historiador André Chevitarese
ESSE MATERIAL FOI TIRADO DO BLOG ''MANIA DE HISTÓRIA''
LINK:
http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:TIasTtA-gCIJ:maniadehistoria.wordpress.com/o-jesus-historico/+andre+chevitarese&cd=26&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br

SOBRE O MATERIAL DO BLOG

MEUS QUERIDOS,

estarei postando alguns materiais que eu entendo que são de muito boa qualidade para ser analisados e apreciados por todos. uma boa parte desse material não serão de minha autoria e nem representam meu inteiro pensamento sobre a questão, mas com certeza tem no material algo muito bom.
Todos esses materiais que não foram produzidos por mim terão a devida autoria citada e o link de acesso do original também publicado aqui. quando for algo de fora da net, terá a devida bibliografia citada.
Apesar de o que acabei de escrever não parecer mais que a minha obrigação, esse tipo de ética pouco se é observado entre os blogueiros.
BOA LEITURA! BOAS PESQUISAS!!!

terça-feira, 21 de junho de 2011

A FORMAÇÃO DO CÃNON DO NOVO TESTAMENTO - PARTE 1


A Bíblia não é um livro caído do céu, um código sagrado ou uma declaração doutrinal de fé. É a suma das experiências e dos encontros, que as pessoas tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento tiveram com Deus. O fato de que essas experiências tenham sido ordenadas, reformadas e algumas delas rejeitadas não levam a ser ignoradas.
Mas seja qual for à história das escrituras ou a formação do Cânon, a essência da Bíblia é o testemunho de experiências e encontros. Esses encontros e seus relatos são expressões que aconteceram enquanto história, em determinadas geografias, e traduzem vivências culturais definidas. Mas não são diretamente acessíveis à nossa própria experiência, por correspondência formal.
No tocante a isso, temos como objetivo discorrer neste texto um pouco da história de formação do Cânon neo-testamentário, sabendo inicialmente que a literatura contemporânea do Novo Testamento foi algo muito vasto. Porém sintetizada pelo Cânon do Novo Testamento.
O Novo Testamento não somente foi à regra de fé dos cristãos, não somente inspirou e ainda inspira vidas heróicas, célebres ou desconhecidas, como também determinou civilizações inteiras em sua ética individual e social por meio da sua literatura e de sua arte.
Sem contar o fato de que o Novo Testamento é a confirmação de uma nova aliança de Jahwe com o povo, fazendo de certa forma uma reprodução da antiga aliança, ou seja, do Antigo Testamento. E uma prova disso é o próprio movimento de Jesus o qual se repete todos os acontecimentos dos movimentos antiquotestamentários principalmente os proféticos.
Com isso entendermos que o Novo Testamento nos traz a principal revelação de uma grande conquista de Jahwe que foi trazer de volta o relacionamento do criador com a criatura o qual foi quebrado lá no Éden e tudo isso, claro através da graça que só o Novo Testamento revela.
Ao falar do Cânon do Novo Testamento, encontramos um texto não tão claro, sem nos darmos conta da diversidade e complexidade dos documentos que o formam e das dificuldades vencidas, mas é falar também do desafio de que não temos documentos originais e um espaço de 300 anos separando a redação original da conservada e, portanto isso poderia fazer-nos duvidar da sua autenticidade.
Segundo Oscar Cullman as condições de transmissão do texto não são desfavoráveis e não poderiam justificar um ceticismo por parte dos historiadores, porém é a avaliação da distância que separa a redação dos escritos do Novo Testamento dos acontecimentos que eles testemunham (p.7)
Alguns problemas devem ser levantados: Uma questão relevante é a questão hermenêutica, a questão da critica, (seja ela qual for) e a visão de conjunto, a fim de que nenhuma critica seja de forma exclusiva de interpretação. Diante disso, como se dá o entendimento da inspiração, inerrãncia e revelação? Já que alguns sustentam como piedosa, crença teológica sem nenhum valor, descartada completamente, somente com uma inerrãncia teológica limitada, sua revelação ocupando uma posição singular de Deus aos seres humanos que afeta sua vida e destino.
Como se dá o entendimento dos evangelhos já que há quatro evangelhos e sua pluralidade cria por sua vez um problema de ordem teológica e literária, formando o problema sinótico, (Mateus, Marcos, Lucas)? Como explicar seu parentesco e as divergências entre eles?
Para Brown em uma conclusão realista seria que nenhuma solução para o problema sinótico resolve todas as dificuldades. Autores modernos, cujos livros exigem pesquisa e que tentam a varias décadas a tarefa de reconstruir precisamente como eles juntaram suas fontes ao escrever aqueles livros, serão condescendentes com a nossa inabilidade em reconstruir precisamente o modo segundo o qual os evangelistas procederam 1900 anos atrás. O processo foi provavelmente mais complexo do que a mais complicada reconstrução moderna (2004, pg.191)
Considerando que a formação Canônica foi fruto de um processo de séculos e o fator decisivo foi à idéia do Cânon sentida na sua necessidade da então igreja, submetendo á tradição apostólica que exposta teria, valor canônico, mas em que consiste esta linha teológica que por sua vez une estas obras e nos autoriza a falar de um pensamento do Novo Testamento.
Os livros e escritos cristãos deveriam ser escassos e raros, e a memória dos crentes era submetida a um esforço fora do comum. É neste contexto cultural de escassez de material literário que procuramos levantar uma discussão em torno da composição do cânon do Novo Testamento, com o desafio de imaginar a origem de uma literatura cristã visando à consideração do processo de seleção que produziu os escritos canônicos.
Por serem abertos, os escritos se permitem e submetem a serem vistos e analisados sob diversos olhares; olhar cristão, o acadêmico e principalmente o olhar teológico. Por tanto, cerca de 300 anos separam a redação original dos textos conservados. Isso passa a ser um problema por que dá margem às dúvidas quanto à autenticidade dos textos. Então, se o que temos em mãos é apenas cópias de cópias, logo somos impelidos a pensar na possibilidade de deformações, distorções e, por que não dizer; erros redacionais que diferenciam os textos antigos dos textos que temos acesso.
São muitos os autores que tentam delimitar a palavra cânon, chegando quase sempre ao mesmo denominador: é de origem grega e seu significado mais comum é (cana ou régua), que, por sua vez, se origina do hebraico kaneh, que aparece no Antigo Testamento significando “vara ou cana de medir”. O termo cânon era empregado no Novo Testamento objetivando fazer referência a um padrão ou regra de conduta para aquelas comunidades que fariam uso destas escrituras. Seguindo esta regra, tudo o mais dentro das comunidades seriam julgados, isso de acordo com o conceito de um sentido ativo do termo cânon e sua validade social dentro das tais comunidades para as quais seria destinado.
A formação do Novo Testamento, diferentemente do que muitas pessoas pensam que envolve o surgimento e a preservação de livros compostos pelos seguidores de Jesus, foi algo sistemático e complexo. É notório que o caráter apostólico exerceu grande influência sobre a escolha dos textos canônicos. Helmut Koester, em seu livro “Introdução ao Novo Testamento” escreve que nos séculos II e III, alguns nomes de apóstolos ou de discípulos de Jesus foram amplamente empregados para dar autoridade e legitimidade a diversos escritos como a formação do conceito de apostolicidade, que se tornou fundamental para o cânon do Novo Testamento, aconteceu nas controvérsias constantes com as seitas gnósticas, pode-se presumir que foi exatamente o apelo gnóstico à autoridade apostólica que introduziu os Padres da Igreja a enfatizarem por sua vez a apostolicidade teve papel muito secundário na inclusão dos escritos no cânon do Novo Testamento.
Cada época e cada igreja são tentadas a fazer uma escolha e a considerar como essencial àquilo que corresponde às suas próprias necessidades, portanto, muitos livros não são preservados em sua forma original, daí então a concepção de que temos apenas cópias de cópias. O processo de seleção dos livros canônicos não foi uma escolha individual, mas, um reconhecimento feito coletivamente pela igreja. Vale lembrar que mesmo antes destes, serem aceitos no cânon, alguns livros já eram usados nas assembléias dos cultos.
Antes do último apóstolo, ou seja, a última testemunha ocular morrer, já havia alguns escritos acerca de Jesus e até mesmo um evangelho inteiro; o evangelho de Marcos. Muitas tradições já existiam sob a forma oral ou escrita, isso nos leva a pensar que Marcos teria usado os escritos já existentes para a formação de seu Evangelho.
A formação do cânon exigiu uma série de cuidados. E vários critérios foram empregados na escolha dos escritos. Como por exemplo: apostolicidade, circulação, uso e outros. O resultado final deste trabalho foi o fruto de um processo que se estendeu por vários séculos.
Diante desses fatos que foram descritos até agora, o leitor pode estar se perguntando, será que há confiabilidade nos escritos neo-testamentários depois de conhecermos as principais rotas da sua formação literária com todos os pormenores? Portanto, é necessário que haja neste conteúdo, é claro, algo que responda os questionamentos surgido no decorrer dessa leitura. Por isso, iniciaremos falando da confirmação da compilação oficial dos livros canônicos que evidência-se de várias maneiras. Logo após a era dos apóstolos, ver-se nos escritos dos primeiros pais da Igreja o reconhecimento da inspiração de todos os 27 livros do Novo Testamento.
Em apoio ao testemunho dos apóstolos temos as antigas versões, as listas canônicas e os pronunciamentos dos concílios eclesiásticos. Todos juntos constituem elo de reconhecimento desde a concepção do Cânon nos dias dos apóstolos, até a confirmação irrevogável da Igreja Universal, em fins do século IV. Não deixando de falar do testemunho dos Pais da Igreja sobre o Cânon. Por parte deles os livros do Novo Testamento sempre foram citados como dotados de autoridade, por sinal, dentro de 200 anos depois de século I quase todos os versículos do Novo Testamento haviam sido citados em um ou mais das mais de 36 mil citações dos Pais da Igreja.
Outros fatores que são importantes na fundamentação dos escritos neo-testamentários são as listas primitivas e as traduções do Cânon. A harmonia geral entre esses elementos e o nosso Cânon é extraordinária e de grande importância, lembrando que é desnecessário entrar nos detalhes principalmente das traduções. Porém, lembrando mais uma vez os nomes das mesmas, antiga Siríaca, antiga Latina, Cânon Muratório, Codice Borococio, Eusébio de Cesaréia, Atanásio de Alexandria etc.
Ainda explorando o contexto documentário na perspectiva de fundamentação dos escritos neotestamentários, encontramos informações sobre os papiros extra-bíblicos, os Óstracos, as inscrições e os lecionários. Os Papiros extra-bíblicos são suplementares e trazem mais esclarecimento ao texto do Novo Testamento e fazem parte de um grupo de livros não-canônico denominado “Logia de Jesus” que significa “dizeres de Jesus”.
Os Óstracos são cacos de cerâmicas freqüentemente utilizadas como material de escrita entre as classes mais pobres de Antigüidade e eram conhecidos como a “Bíblia dos Pobres”.
As inscrições: a larga distribuição e a grande variedade de inscrições antigas não só atestam a existência dos textos bíblicos na época, mais também a importância deles. Há abundantes gravações em paredes, pilares, moedas, monumentos e outros lugares que têm sido preservados como testemunhas do texto do Novo Testamento
Os Lecionários são outros testemunhos super valorizados dos textos do Novo Testamento porque eram livros usados no culto da Igreja que continham textos selecionados para as leituras tirados da própria Bíblia sabendo que são bem posteriores aos escritos bíblicos.
Diante desses detalhes mencionados sobre a fundamentação ou veracidade do conteúdo neo-testamentário, fecharemos esse assunto falando de um aspecto que é fundamental para a idéia em questão. A inspiração foi o ponto de partida para a escolha dos escritos que formaram o Cânon Sagrado, é claro, diante de outros pré-requisitos como, por exemplo, a questão apostólica. Os apóstolos e profetas do Novo Testamento não hesitaram em classificar seus escritos como inspirados, ao lado do Antigo Testamento. Seus livros eram respeitados, colecionados e circulavam na Igreja Primitiva como Escritura Sagrada, o que Jesus declarou ser inspiração a respeito do Antigo Testamento o Senhor prometeu quanto ao Novo Testamento.
Jesus nunca escreveu um livro, no entanto endossou autoridade do Antigo Testamento e a promessa de inspiração para o Novo Testamento. No próprio texto dos livros do Novo Testamento, há inúmeros indícios de sua autoridade divina. São eles explícitos e implícitos. Como, por exemplo, os evangelhos que apresentam-se como registros autorizados do cumprimento das profecias do Antigo Testamento a respeito de Cristo. Isso não é presenciado só nos evangelhos, mas em todo restante dos escritos, principalmente no “Corpus Paulinum”. Portanto, a maior riqueza do Cânon neo-testamentário é o fato de que tudo aquilo que são pontos de dúvidas e questionamentos sobre ele, ao mesmo tempo serve de base para sua aprovação e comprovação.





BIBLIGRAFIA:
GEISLER, Norman: Introdução Bíblica,
NIX, William. Introdução Bíblica, 1997 Editora Vida. SP
BROWN, Raymond E. Introdução ao Novo Testamento; Editora Paulinas; 2004, SP
MOULE, Charles Francis Digby. As Origens do Novo Testamento; Editora Paulinas; 1979, SP
CULLMANN, Oscar. A Formação do Novo Testamento; Editora Sinodal; 2001; São Leopoldo
KOESTER, Helmut. Introdução ao Novo Testamento; Vol. I; Editora Paulus; 2005; SP
KUMMEL, Werner Georg. Introdução ao Novo Testamento.

sábado, 2 de abril de 2011

EBD: sobre Ruach HaKodesh

Amados, a lição da EBD CPAD deste domigo tratará sobre a Ruach HaKodesh (Espírito Santo). a revista em si falará desse assunto  baseado no''movimento pentecostal'' na visão Pneumatoógico (Estudo do Espirito Santo na visão devocional), e começa a sua primeira lição fazendo uma pergunta: Quem é o Espírito Santo?
Entendo eu que a pergunta mais própria seria: o que é o Espírito Santo? quem é a Rach HaKodesh? é Deus? é Divino? é uma ''força''? enfim... a partir da definição que temos do Espírito Santo, podemos falar de quem Ele é... O q é ES para vc?

quarta-feira, 23 de março de 2011

Paulo Testifica de Cristo em Roma - EBD

Essa lição da CPAD, não tem muito que comentar para vcs, professores... peço que vcs observem na Biblia AT 21-26, que mostra como foi a prisão de Paulo e o porque foi levado a Roma. Narrar a historia da viagem a Roma, chamando atenção para os sinais seria interessante... contudo, quero vos chamar atenção para 2Timoteo 4, que retrataria bem o estado que Paulo realmente se encontra em Roma (se esta carta fosse realmente escrita por ele) e faça uma comparação com At 28. observe que o clima é diferente... apesar das duas narrativas falarem da mesma ocasião... nesse ponto seria interessante explorar a humanidade de Paulo, onde aparece em uma situação inimaginavel para muitos: sofrendo com abandono. fazer um contra ponto sobre a posição do obreiro, na seara é bastante pertinente, que mostra aqui entre outras coisas, que a obra de Deus não pode sofrer por causa de situações que passamos... precisamos sempre continuar! Boa aula!

sábado, 19 de março de 2011

As viagens Missionárias de Paulo - EBD

Quero falar aos professores de como acontecia a evangelização nas viagens missionárias de Paulo. Diferentemente do que se imaginam a maioria dos estudantes da Bíblia, a pregação de Paulo entre os gentios não era de forma aleatória ou uma panfletagem, como se vê nos dias de hoje. Segundo o NT, Paulo pregava ''NAS SINAGOGAS DA DIÁSPORA, PARA OS JUDEUS E OS GENTIOS TEMENTES A DEUS''. - O que esse termo significa? - No sec 1dC, o Politeísmo está em grande declínio. É moda ser monoteísta, - ter um só ''Deus''. e as sinagogas espalhadas por todo o mediterrâneo estão cheias de passoas querendo servir ao Deus dos Judeus, mas não conseguem... Pq não conseguem? - por causa dos costumes ligado a Lei que os judeus tem que cumprir. Dentre eles a circuncisão. - e isso para um homem adulto é um sacrifício. ou seja: os Gentios estavam nas sinagogas, estas estavam lotadas, mas não se convertiam ao Deus dos Judeus. E Paulo observa essa situação. E é por isso que vemos ele pregando nas sinagogas... E dos convertidos nas sinagogas, ele montava as igrejas que vemos na Bíblia. Outros meios de ''evangelização'' que ele utilizava eram por cartas, que ele pedia para ser lido para todos nas igrejas, e através de testemunho de vida. Pensem, e levem aos alunos sobre a necessidade de termos testemunho de vida, táticas evangelhisticas e o fato de deixar Deus nos usar em sua seara. Que os exemplos de Paulo sejam de inspiração para nós. Amém.

quarta-feira, 16 de março de 2011

AOS PROFESSORES - SABER OUVIR

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES AOS PROFESSORES:

Antes de tecer qualquer comentário, quero vos lembrar, professores, que o objetivo do Padrão não é dizer o que você irá dizer na sua aula, uma vez que as classes tem necessidades particulares e o professor deve estar atento para tal para estar acrescenando em conhecimento e espiritualidade de sua classe/alunos e evitar de estar repetindo ao máximo o que o aluno já tem conhecimento. (relembrar é uma coisa, repetir é outra) - Você professor tem a oportunidade de ouro de bem direcionar a fé de sua classe, uma vez que eles são voluntários a aprender, e estão ali de bom grado. O mais importante em uma aula não é o que você estudou e preparou; o mais importante são os alunos e suas reais necessidades. O que diferenciará uma aula monóloga (onde o professor fala muito e o aluno pouco ou não fala) para uma participativa é o SABER OUVIR. Ouvindo bem, você terá uma possibilidade bem maior de atender as reais necessidades de seus alunos, entenderemos melhor seus questionamentos e com isso, responderemos melhor e com mais propriedade o questionamento. Somente sabendo ouvir teremos noção da real necessidade da classe, e aí, você poderá acrescentar conhecimento e espiritualidade em seus alunos. Não se apresse a falar. Você não precisa responder todos os questionamentos. O MAIS IMPORTANTE NÃO É O QUE VOCÊ TEM A FALAR, E SIM, O QUE VOCÊ TEM A OUVIR

quinta-feira, 10 de março de 2011

Padrão EBD - Liçao 11 - O primeiro consílio da igreja Cristã. CPAD

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES AOS PROFESSORES:

Antes de tecer qualquer comentário, quero vos lembrar, professores, que o objetivo do Padrão não é dizer o que você irá dizer na sua aula, uma vez que as classes tem necessidades particulares e o professor deve estar atento para tal para estar acrescentendo em conhecimento e espiritualidade de sua classe/alunos e evitar de estar repetindo ao máximo o que o aluno já tem conhecimento. (relembrar é uma coisa, repetir é outra) - Você professor tem a oportunidade de ouro de bem direcionar a fé de sua classe, uma vez que eles são voluntários a aprender, e estão ali de bom grado. O mais importante em uma aula não é o que você estudou e preparou; o mais importante são os alunos e suas reais necessidades. O que diferenciará uma aula monóloga (onde o professor fala muito e o aluno pouco ou não fala) para uma participativa é o SABER OUVIR. Ouvindo bem, você terá uma possibilidade bem maior de atender as reais necessidades de seus alunos, entenderemos melhor seus questionamentos e com isso, responderemos melhor e com mais propriedade o questionamento. Somente sabendo ouvir teremos noção da real necessidade da classe, e aí, você poderá acrescentar conhecimento e espiritualidade em seus alunos. Não se apresse a falar. Você não precisa responder todos os questionamentos. O MAIS IMPORTANTE NÃO É O QUE VOCÊ TEM A FALAR, E SIM, O QUE VOCÊ TEM A OUVIR!

PADRÃO EBD – Lição 11 - 13 DE MARÇO DE 2011 – revista ''Jovens e Adultos'' – CPAD.

Título: Primeiro consílio da igreja de Cristo

A lição deste domingo fala do consílio que ouve em Jerusalém. Observamos que o autor se equivocou no título, onde ele coloca como o ''primeiro''. Porém, a propria revista mostra que esse seria o terceiro (tópico 1 numero 3), porém isso não é determinante para o nosso estudo.
Quero aqui ressaltar que o comentarista trás uma lição interessante, que se observarmos somente o livro de Atos, cap 15 não teremos a real noção do que está acontecendo. Só por Atos entendemos que esse consílio foi aparentemente bem tranquilo, e sem maiores problemas. Porém, Galatas nos fala melhor dos bastidores deste importante consílio. (Gl.2: 1-16)
Ao lerem esse texto, observem que o clima não era dos melhores, mostrando que haviam 2 grupos bem distintos na igreja no primeiro seculo: os da circuncisão e os da incircuncisão (observe Gl 2:12 e At 15: 1,2 e 19 eles tratam da questão dos gentios e não da igreja como um todo).
É importante ressaltar que vemos um crescimento extraordinário entre as igrejas dos gentios após a decisão que tomaram em Jerusalém, livrando os gentios dos costumes da Lei. Porém não é o que acontece com os da ''circuncisão'', que continuam guardando os costumes da lei a ponto dessa igreja deixar de existir com a destruição de Jerusalém e da judeia, a partir do ano 70.
abaixo, vai o link oficial da lição pela CPAD:
Duvidas, perguntas, acrescimos: poste aqui ou me envie um email. Paz!!!

Inícios...

Bem... depois de alguns pedidos, estamos aqui com um Blog próprio... e pra mim é uma honra ter observadores eventuais e seguidores nesse Blog. Bem, o objetivo desse Blog é transmitir, buscar e adquirir o real conhecimento e saber dentro daquilo que é considerado pelo cristianismo como ''escrituras sagradas''(assim também entendo) bem como seu contexto histórico, pedagógico, filosófico, judaico e cultural, buscando estar colocando aqui o que temos de ''top'' dentro dessas visões da bíblia. Falaremos de fé e ciência; contexto histórico e filosófico; influencias externas bem ou mau intencionadas; a pedagogia, psicologia aplicada e as aplicações e implicações do texto. enfim, esse Blog é para os amantes da Bíblia e tudo que a envolve. discutiremos aqui também as lições de revistas da EBD, funcionando assim, como sala do professor da EBD e uma espécie de ''classe Padrão'' da EBD. funcionará também como um subsídio a meus ''talmidins''(assim alguns deles se denominam) dos seminários que tenho prazer de dar aulas. Deles e da visão que buscamos para o estudo biblico vem o título de Blog: RABI & TALMIDIM; onde ora eu ora vc estaremos nas posições de Rabi e Talmidim.